sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Tributo ao seu esplendor

O texto abaixo escrevi no meu último ano no Pedro II de São Cristóvão:


Por que eu deveria falar desse colégio? Eu o odeio. Eu tenho que estudar aos sábados, enquanto os outros estão na praia ou no shopping. Enquanto os outros estão curtindo a sua juventude. Por que eu deveria elogiar um colégio onde os professores acham que não temos vida? Enchem-nos de trabalhos, de testes, provas. E quando chegamos ao último ano e achamos que teremos que nos preocupar apenas com o vestibular, somos soterrados de tarefas, que nos levam ao desespero pela falta de tempo pra estudar. Os professores, à primeira vista são ótimos. Explicam bem, são prestativos, engraçados, dinâmicos, experientes... Porém, na hora das notas, são todos a mesma coisa: carrascos. Eles não entendem que temos outros assuntos a tratar. O começo de nossa vida é importante. Não podemos nos preocupar com escola. Temos que aproveitar a nossa juventude, nossa fase de rebeldia, de lutar por aquilo que acreditamos ser correto. Uma avaliação escrita não é o melhor método para avaliar o meu desempenho.
Isso tudo piora quando somos do técnico. Além de estudar no sábado, temos ainda mais disciplinas com as quais temos que nos preocupar. Pior que isso: temos que estudar em dois turnos, inclusive no sábado. Já não basta a pouca vida que tenho, o colégio me obriga a estudar dobrado. 3° ano então nem se fala. É coisa pra sanatório. Graças a Deus estou indo embora.
Mas... Que sensação é essa? Que aperto é esse no meu peito?  Eu deveria estar dando saltos de alegria, finalmente vou me livrar desse martírio. Isso só pode ser pelos meus amigos. Bons camaradas dos quais eu me separarei. O tempo tratará de nos separar. Bom, tenho que admitir, isso eu devo ao colégio. Nunca tinha encontrado uma turma assim. Qualquer um que nos visse diria que somos loucos. Um bando de jovens gritando, correndo como crianças, cantando no meio da rua... Que tipo de amizade é essa? Pois eu respondo: da que fiz no Pedro II. Foi aqui que os conheci. Foi aqui que compartilhei das suas alegrias. Rimos juntos. Juntos enfrentamos as provas, as recuperações, os trabalhos tresloucados. Foram eles que me deram suporte nas horas difíceis, que me ofereceram os ombros quando necessitei. Foi no Pedro II que encontrei pessoas que levarei para o resto de minha vida.
Mas mesmo assim, não deveria me sentir oprimido. Os amigos, me esforçarei para manter. Nos reuniremos no futuro e mataremos as saudades. Não consigo entender... Deve ser por causa das discussões dos alunos. Discutir a cerca de tudo sobre essa prisão. Criticá-la e xingá-la com prazer. Extravasar todas as frustações em palavrões bem colocados. Ou quem sabe as discussões sobre o futuro. Acabaram-se os debates. Não posso mais idealizar sobre minhas responsabilidades. Tenho de enfrenta-las.
Bom, com certeza não sentirei falta das aulas. Ficar enfurnado em uma sala de aula, ouvindo um professor discursando sobre um assunto que nem mesmo posso aplicar a minha vida, que usarei apenas para passar de ano, não é meu hobby favorito. Ainda mais tendo que devorar esses assuntos para fazer trabalhos e provas. Como posso sentir falta disso? Mas pra falar a verdade... As aulas não eram tão ruins. Eu as odeio por que sou obrigado a tê-las. Tenho que admitir que quando eu queria elas eram interessantes. Tantas coisas que aprendi, tantos futuros que vislumbrei em razão dessas aulas. Quando se quer, aprender torna-se muito fácil. E nesse colégio muitas coisas pude aprender. Quisera eu ter me empenhado para aprender outras mais. Esse tempo, agora já passou. E agora percebo que aqueles professores irritantes estavam certos.  Essa foi a minha época de decisão. Aqui, entre essas paredes, decidi o meu destino.
Por mais difícil que isso seja, tenho que admitir. Sentirei falta desse colégio. Sentirei saudade das pessoas que conheci graças a ele. Sentirei saudade das aulas, daquilo que aprendi. Sentirei saudades até mesmo das cobranças dos professores. Eles nos cobravam, não de sacanagem (alguns sim), mas para compreendermos mais acerca da vida e quão dura ela é. O Pedro II está além de um simples escola, aqui aprendemos sobre a vida. Aqui eu cresci, amadureci, evoluí. Ontem entrei como um garoto, e hoje saio como um homem. Essa lágrima que corre pela minha face não é pelo adeus, mas sim pelo dia em que entrei nesse colégio. 

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